UMA CONSTRUÇÃO HUMANA EM
BUSCA DE POTENCIALIZAÇÃO
Wellington Fernandes Galindo[1]
Resumo:
Este artigo propõe uma reflexão sobre o papel da inovação e da tomada de
decisão no desenvolvimento humano, relacionando-os à evolução do conhecimento e
à busca constante por potencialização das capacidades humanas. Da invenção da
roda à inteligência artificial, a humanidade construiu ferramentas para ampliar
suas possibilidades físicas, cognitivas e sociais. Neste cenário, o artigo
também analisa as dez habilidades do profissional do futuro, segundo o Fórum
Econômico Mundial, e como elas se relacionam com o uso estratégico da inovação.
Palavras-chave: Inovação; Tomada de decisão;
Conhecimento; Inteligência artificial; profissional do futuro.
Résumé :
Cet article propose une réflexion sur le rôle de
l’innovation et de la prise de décision dans le développement humain, en les
reliant à l’évolution des connaissances et à la recherche constante de
potentialisation des capacités humaines. De l’invention de la roue à
l’intelligence artificielle, l’humanité a construit des outils pour élargir ses
possibilités physiques, cognitives et sociales. Dans ce contexte, l’article
analyse également les dix compétences du professionnel du futur, selon le Forum
économique mondial, et leur lien avec l’utilisation stratégique de
l’innovation.
Mots-clés : Innovation ; Prise de décision ; Connaissances ; Intelligence artificielle ; Professionnel du futur.
[1] Mestre, doutor, posdoc, neuroteologo, email; wfgalindo@hotmail.com; wfgalindo26@yahoo.com.br, Instagam @profwellingtongalindo
1. Introdução
A história da humanidade é marcada por descobertas que
transcendem limitações biológicas. A criação de instrumentos e tecnologias tem
permitido ao ser humano ampliar sua presença no mundo e potencializar suas
habilidades. Assim como a bicicleta, o carro ou o avião expandiram nossa
mobilidade, e os óculos ampliaram nossa capacidade visual, a Inteligência
Artificial (IA) surge hoje como uma ferramenta para expandir nossa capacidade
cognitiva e produtiva. A afirmação de Vinícius Caridá — “a inteligência
artificial é um meio de potencializar nossa capacidade mental e produtiva” —
expressa bem esse paradigma.
No centro dessas transformações está a tomada de decisão:
um processo cognitivo essencial que se tornou cada vez mais complexo diante da
abundância de informações, da velocidade das mudanças e da diversidade de
contextos. Este artigo discute como a inovação tem se tornado indissociável da
capacidade de decidir de forma estratégica e adaptativa, especialmente no
contexto das habilidades esperadas do profissional do futuro.
2. A Inovação como Caminho de
Potencialização Humana
Desde os tempos primitivos, o ser humano buscou superar os
limites impostos por sua constituição física. A pedra lascada, a roda, a prensa
de Gutenberg, o motor a combustão e o microchip são marcos que evidenciam a
nossa vocação para criar instrumentos que nos tornem mais potentes. Nesse
processo, a inovação é o fio condutor, atuando como catalisador do
conhecimento aplicado.
A inovação não se reduz à criação de novos produtos, mas
envolve também a ressignificação de processos, estratégias e modos de pensar.
Ela nasce do encontro entre conhecimento acumulado, observação crítica da
realidade e abertura ao risco — elementos que tornam a tomada de decisão um
exercício de inteligência contextual.
3. Tomada de Decisão: Da Intuição à
Inteligência de Dados
Tomar decisões é, historicamente, uma competência humana.
Contudo, o volume de informações disponíveis atualmente exige mais do que
intuição: exige pensamento crítico, análise de dados, colaboração
interdisciplinar e, sobretudo, responsabilidade ética. A tomada de
decisão tornou-se uma habilidade estratégica, que exige domínio técnico,
emocional e cognitivo.
Com o advento da IA, ferramentas analíticas passaram a auxiliar decisores nos campos mais diversos: da medicina à indústria, da educação ao agronegócio. Porém, mesmo com sistemas de apoio à decisão, o fator humano ainda é insubstituível — pois envolve julgamento moral, sensibilidade social e capacidade adaptativa, valores que a tecnologia ainda não é capaz de replicar.
4. As Dez Habilidades do Profissional do Futuro
O Fórum Econômico Mundial identificou as 10 habilidades fundamentais para o profissional do futuro. Elas dialogam diretamente com os desafios impostos pela inovação e pela tomada de decisão em ambientes complexos:
- Pensamento
analítico e inovação
- Aprendizagem
ativa e estratégias de aprendizado
- Resolução
de problemas complexos
- Pensamento
crítico e análise
- Criatividade,
originalidade e iniciativa
- Liderança
e influência social
- Uso,
monitoramento e controle de tecnologias
- Design
de tecnologia e programação
- Resiliência,
tolerância ao estresse e flexibilidade
- Raciocínio lógico e capacidade de tomada de decisão
A inovação tecnológica e a complexidade das decisões atuais demandam profissionais multifacetados, preparados para atuar com autonomia, criatividade, pensamento sistêmico e ética. A seguir, analisamos as dez habilidades do profissional do futuro, segundo o Fórum Econômico Mundial (2023), relacionando-as à capacidade humana de construir conhecimento e transformar o mundo:
|
Habilidade |
Descrição |
Contribuição à Inovação e
Tomada de Decisão |
|
1. Pensamento analítico e
inovação |
Capacidade de analisar
problemas complexos e propor soluções inovadoras. |
Fundamenta decisões criativas,
mas estruturadas. |
|
2. Aprendizagem ativa e
estratégias de aprendizado |
Disposição para aprender
continuamente e adaptar-se. |
Garante flexibilidade diante de
mudanças. |
|
3. Resolução de problemas
complexos |
Competência para lidar com
variáveis múltiplas e incertezas. |
Sustenta decisões em ambientes
ambíguos. |
|
4. Pensamento crítico e
análise |
Habilidade de avaliar
informações com lógica e ética. |
Protege contra decisões
precipitadas ou enviesadas. |
|
5. Criatividade,
originalidade e iniciativa |
Capacidade de propor e implementar
novas ideias. |
Impulsiona soluções disruptivas
e visionárias. |
|
6. Liderança e influência
social |
Influência positiva e
capacidade de coordenar pessoas. |
Facilita decisões coletivas e
sustentáveis. |
|
7. Uso, monitoramento e
controle de tecnologias |
Conhecimento técnico sobre
ferramentas digitais. |
Amplia a eficácia na tomada de
decisões orientadas por dados. |
|
8. Design de tecnologia e
programação |
Criação e adaptação de sistemas
tecnológicos. |
Garante autonomia na construção
de soluções. |
|
9. Resiliência, tolerância
ao estresse e flexibilidade |
Estabilidade emocional em
contextos desafiadores. |
Sustenta decisões equilibradas
em cenários de pressão. |
|
10. Raciocínio lógico e
capacidade de tomada de decisão |
Avaliação racional de
alternativas. |
Direciona escolhas
fundamentadas e eficientes. |
A integração dessas competências cria a base para um novo perfil profissional: analítico, ético, inventivo e adaptativo. Essa base fortalece a inovação e permite decisões mais conscientes, produtivas e sustentáveis.
5 Análise das 10 Habilidades do Profissional do Futuro:
Fundamentos para Inovação e Tomada de Decisão
Com a crescente complexidade do mundo do trabalho — marcada
pela transformação digital, inteligência artificial e mudanças sociais —
torna-se essencial compreender as competências que sustentam decisões
eficazes e inovadoras. A seguir, analisamos cada uma das 10 habilidades
elencadas pelo Fórum Econômico Mundial (2023), relacionando-as com a capacidade
de inovação, a inteligência adaptativa e a potencialização das funções
humanas.
5.1. Pensamento Analítico e Inovação
Esta habilidade refere-se à capacidade de decompor
problemas complexos e encontrar soluções criativas e funcionais. No
contexto da tomada de decisão, pensar de forma analítica permite organizar
dados, identificar padrões e formular hipóteses. A inovação depende deste
pensamento para que as soluções sejam originais, mas também viáveis e
ancoradas na realidade.
Potencialização: Amplia a capacidade racional de
lidar com o novo e com a incerteza.
5.2. Aprendizagem Ativa e
Estratégias de Aprendizado
Em um mundo onde o conhecimento se renova rapidamente, a
habilidade de aprender continuamente se torna central. Profissionais inovadores
são aprendizes permanentes, capazes de desaprender o que não serve mais
e reaprender com novas ferramentas, como a IA.
Potencialização: Transforma a aprendizagem em um
ciclo evolutivo, não linear, adaptativo e estratégico.
5.3. Resolução de Problemas
Complexos
Mais do que solucionar questões imediatas, trata-se de
compreender sistemas multifatoriais, onde não há respostas simples. Essa
habilidade exige pensamento sistêmico, resiliência cognitiva e
capacidade de atuar em contextos de incerteza, o que é fundamental para inovar
de forma estruturada.
Potencialização: Aumenta a autonomia decisória em
ambientes dinâmicos e voláteis.
5.4. Pensamento Crítico e Análise
É a capacidade de questionar informações, argumentos e
decisões, evitando vieses e julgamentos apressados. O pensamento crítico
sustenta decisões éticas e estratégicas e é essencial na avaliação do
impacto de inovações sobre o meio ambiente, a cultura e a sociedade.
Potencialização: Refina o juízo e a ética na tomada de decisões complexas.
5.5. Criatividade, Originalidade e
Iniciativa
A criatividade é o motor da inovação. A originalidade e a
iniciativa permitem que ideias saiam do plano abstrato e se tornem projetos
reais. Essa tríade sustenta o desenvolvimento de novos produtos, serviços e
formas de organização do trabalho.
Potencialização: Expande a imaginação prática,
transformando ideias em ações.
5.6. Liderança e Influência Social
Num cenário em que a colaboração é indispensável, líderes
são aqueles que conseguem inspirar, coordenar e orientar times diversos.
A influência social favorece ambientes propícios à inovação, onde a decisão é
construída coletivamente e não imposta verticalmente.
Potencialização: Amplia a capacidade relacional e de
engajamento coletivo.
5.7. Uso, Monitoramento e Controle
de Tecnologias
A inovação tecnológica demanda domínio técnico. Não basta
usar ferramentas digitais — é preciso compreendê-las criticamente,
monitorar seus impactos e saber aplicá-las de maneira produtiva e ética.
A inteligência artificial, por exemplo, exige discernimento quanto a vieses e
limites.
Potencialização: Integra tecnologia ao raciocínio
humano como extensão e não substituição.
5.8. Design de Tecnologia e
Programação
O design tecnológico conecta a criatividade à
funcionalidade. Profissionais do futuro precisarão não apenas operar
sistemas, mas construí-los, adaptá-los e entender sua arquitetura. Isso
permite maior autonomia e protagonismo na era digital.
Potencialização: Desenvolve a capacidade de cocriar
com a máquina, e não apenas servi-la.
5.9. Resiliência, Tolerância ao
Estresse e Flexibilidade
A tomada de decisões em tempos de mudança exige maturidade
emocional, capacidade de manter o foco e ajustar rotas diante de falhas ou
crises. Essas competências emocionais são cada vez mais valorizadas, pois
garantem estabilidade em meio ao caos.
Potencialização: Fortalece o centro emocional diante da pressão por performance e inovação.
5.10. Raciocínio Lógico e Capacidade
de Tomada de Decisão
Trata-se da habilidade de avaliar variáveis, projetar
cenários e escolher caminhos de forma fundamentada. No século XXI, decidir
exige equilibrar razão, intuição e análise de dados — num processo cada vez
mais híbrido entre humano e máquina.
Potencialização: Aperfeiçoa o discernimento entre
múltiplas possibilidades com base em critérios consistentes.
Somos Construtores de Nós Mesmos
Ao longo da história, a humanidade não apenas evoluiu
biologicamente, mas se reinventou cultural e tecnologicamente. Somos seres
construtores: inventamos ferramentas, linguagens, instituições e, agora,
sistemas inteligentes. Essas criações são extensões de nossa mente e corpo, e
refletem nosso desejo de transcender limites.
Na era da inteligência artificial, surge a pergunta: como
usar essa nova ferramenta para construir uma sociedade mais justa, criativa e
sustentável? A resposta reside na capacidade de formar profissionais que
integrem conhecimento técnico e humanístico, ciência e ética, tecnologia e
empatia..
6. Considerações Finais
Inovação e tomada de decisão são faces complementares do
mesmo processo: a construção de caminhos que ampliem nossa potência de agir. Ao
reconhecer que a inteligência artificial, como os óculos ou o automóvel, é uma
tecnologia de ampliação, entendemos que seu valor está em como é usada, por
quem e para quê.
Diante disso, a formação de profissionais capazes de
decidir com consciência, sensibilidade e visão sistêmica é urgente. Afinal, as
habilidades do futuro já são exigências do presente — e o presente é o espaço
em que construímos o futuro.
Referências
- CARIDÁ,
Vinícius. Inteligência Artificial e a Expansão da Mente Humana. São
Paulo: Nova Mente, 2024.
- SCHWAB,
Klaus. A Quarta Revolução Industrial. São Paulo: Edipro, 2016.
- WORLD ECONOMIC FORUM. The
Future of Jobs Report 2023. Genebra: WEF, 2023.
- MORIN,
Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. São Paulo:
Cortez, 2000.
- DAVENPORT, Thomas; KIRBY, Julia. Only Humans Need Apply: Winners and Losers in the Age of Smart Machines. HarperBusiness, 2016.

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